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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Daytripper - Fábio Moon & Gabriel Bá

A primeira coisa que me vem à cabeça quando eu penso em Daytripper é: essa história em quadrinhos mexeu comigo mais do que muito romance. 
E com certeza não é só "uma história em quadrinhos", mas uma narrativa densa, bem escrita e bem pensada (parece que eles demoraram mais de 10 anos para deixar tudo do jeito que queriam).

Brás de Oliva Domingos, o personagem principal, é filho de um escritor brasileiro super famoso. Enquanto isso, Brás escreve obituários, sonhando em ser, assim como seu pai, um escritor. A ideia do Brás como sombra do pai é muito bem construída em texto e imagem. Aliás, uma das minhas ilustrações preferidas de todo o livro mostra bem isso: o não conseguir se desvencilhar da imagem do pai.

Assim como bem dito na sinopse, "cada dia na vida de Brás é como uma página de um livro". E ainda acrescento mais: cada capítulo de Daytripper é como um livro aparte e guarda consigo momentos de clímax e um final inesperado.

Daytripper é o que de mais contemporâneo - ou pós-moderno para alguns - pode existir dentro da literatura no momento. Hiperfragmentação de personagens, principalmente de Brás, intertexto (ou releitura, dependendo do ponto de vista) com uma obra literária clássica da literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas, referência à música Daytripper, dos Beatles, e aquele toque dúbio de realidade com dissimulação - o elemento fantástico. As influências são tantas que até o personagem Brás se parece -não só fisicamente - com um grande nome da música e da literatura brasileira. Será que vocês adivinham qual?  


Brás Chico Buarquezando 
Qualquer coisa mais que eu diga, estragaria a deliciosa surpresa que é esse romance fragmentado em forma de história em quadrinhos. Há tempos não lia algo tão intenso sobre as relações humanas. Fábio Moon & Gabriel Bá conseguem nos puxar pro fundo da existência do personagem e, mais importante, pro fundo de nós mesmos. O tipo de livro que se lê em uma sentada mas que fica dentro da gente por muito mais tempo do que se imaginou. 



Pra quem quiser ver, a entrevista abaixo com os autores é bem bacana:



* Agracimento especial ao Arthur Duarte, que me emprestou o livro e me fez querer ler muitos outros do gênero.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Travessia de verão - Truman Capote

Tenho pra mim que existem livros que conseguem crescer na gente e livros que, não adianta, não vingam. Acho que isso tem muito a ver com a identificação com determinado personagem ou com o ambiente da narrativa e, como diz minha amiga Luciana, que já escreveu sobre o livro Risíveis Amores (Milan Kundera) por aqui, a gente sempre se busca em personagens e, coincidência ou não, meus livros preferidos são exatamente aqueles em que lendo eu também me li. 

O fato é que Travessia de verão, do Truman Capote, não vingou. Comprei ele há um tempão e já tinha tentado ler e acabei abandonando - e olha que isso é difícil. O fato é que o autor acaba tendo um peso maior do que a própria história. Presta-se mais atenção nisso ou naquilo por saber se tratar de um texto do Capote, entende? E quando se esquece desse detalhe, esse livro passa a ser mais um. 

Explicação pra isso? Tem. Travessia de verão é um primeiro romance precoce de Truman que ficou guardado por décadas e quase se perdeu. Capote, aliás, deixou indícios de que gostaria que o romance jamais fosse publicado. Então é aquela coisa: algo que ele escreveu, não gostou e deixou na gaveta. 

O romance é um relato sobre amor e juventude tendo Nova York como pano de fundo. Grady, menina de família rica, acaba ficando sozinha em sua cobertura na Quinta Avenida enquanto seus pais fazem um cruzeiro. Vendo-se sozinha, ela acaba deixando-se envolver mais ainda em seu caso de amor com um jovem judeu que trabalha com atendente num estacionamento de automóveis. 
 O título diz respeito tanto à viagem dos pais de Grady quanto à própria Grady, que, ao se ver cercada de liberdade, acaba também fazendo uma travessia pessoal. 

É um livro que faz muito mais sentido para quem já tem algum contato com Capote. "Embora não seja uma obra refinada, o romance reflete claramente o surgimento de uma voz original e de um prosista surpreendentemente talentoso." (Alan U. Schwartz).


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vinte anos. Duas pessoas. Um dia. - David Nicholls

Depois de um longo e tenebroso tempo deixando o Leitoraria; às traças - mas não os livros, que seja dito! - reinauguro essa nova fase desse blog com o primeiro livro lido em 2012: Um dia

Antes de qualquer coisa, confesso que tenho um pouco (aka muito) de preconceito com best seller. Mas esse me conquistou primeiramente pela capa e depois pelo trecho da crítica de Nick Hornby (escritor do famoso Alta Fidelidade): "Cativante, inteligente, espirituoso." Ou seja, acabei achando que o livro valeria a pena no mínimo como passatempo de férias. E valeu muito mais do que isso.

Fazendo um resumo bem rápido do romance, ele gira em torno de dois personagens: Emma Morley e Dexter Mayhew. Os dois, que estudaram na mesma faculdade, acabam dormindo juntos depois da formatura. E sim, isso não é um eufemismo, eles realmente só dormiram juntos. Quem nos conta essa história, que nos primeiros capítulos não me pareceu muito encantadora, é um narrador em terceira pessoa - o que faz com que nós, leitores, nos sintamos meio que voyeurs da vida dos dois. 
Outra coisa legal é que não, não é aquela história clichê e muito pouco real em que duas pessoas se encontram todo ano em um mesmo dia. E sim, acho que é o que todo mundo pensa quando se depara com esse romance pela primeira vez - eu inclusive. Esse um dia do título é a  data do dia posterior à formatura, esse dia em que eles realmente se conheceram. O que autor faz é usar isso como o mote para focalizar a vida de Dex e Em por vinte anos em todo dia 15 de julho. Muitas vezes eles nem se falam nesse dia e por deixar muitos espaços em aberto, nós funcionamos um pouco como escritores dessa história, preenchendo na imaginação os buracos intencionais e muito bem feitos dessa narrativa.

Outro ponto bacana é que a linguagem não é aquela típica de best seller, em que o autor samba na nossa cara o quanto ele acha que somos burros e simplifica até o que não precisa. Muito pelo contrário, a linguagem é bacana e depois dos primeiros capítulos faz com que a narrativa pegue um ritmo impressionante, fazendo com que o livro seja um daqueles que a gente leva junto em todo lugar. O que acaba dando um sentimento contraditório de querer muito terminar misturado com fazer com que a história dure pra sempre.

Outra coisa que me chamou atenção é o quanto os personagens Dexter e Emma são bem construídos. Isso só acaba fazendo com que a gente se apaixone mais e mais por eles durante o caminhar do romance. É certo que às vezes torcendo mais pra um e odiando um pouco o outro... 

É o melhor livro do mundo? Não. Mas é um livro que eu super indico, com certeza. 
Falando agora bem por mim, foi marcante em especial porque estou no mesmo momento dos personagens: saindo da faculdade. Então muitas coisas caíram como uma luva.

A quem se interessar, também tem o filme, que - como sempre - nem se compara ao livro, apesar da fofa da Anne Hathaway.




domingo, 23 de janeiro de 2011

Meu Frenesi Polissilábico

Desta vez foi como nunca havia sido: destituí-me do hábito de seguir rigorosamente uma lista com a ordem de livros a serem lidos nas minhas férias. Para os leitores mais metódicos isso pode até soar como displicência. Para mim foi a luz no final do túnel. É que, de repente, me peguei buscando os livros cegamente na prateleira, como se não tivesse a pretensão de lê-los; como se fosse apenas uma forma de dizer que tudo estava bem e que, de fato, Charles Dickens poderia nem me fazer cócegas. Esta pretensão despretensiosa culminou agora no que chamo de obra do acaso (e não, não se enganem, eu jamais leria Dickens com 21 anos).
Acontece que tudo começou com o tal do Nick Hornby (e se você nunca ouviu falar dele, acho melhor começar a se preocupar com o tempo perdido) e o seu Frenesi Polissilábico, lançado em 2006 pela Rocco. Trata-se de uma compilação de artigos do Hornby para um jornal literário chamado The Believer. Mas não artigos de qualquer tipo de literatura pré-determinada, mas sim aquela escolhida aleatoriamente pelo próprio Hornby. Entendeu o incrível da coisa? Vou deixar de forma mais clara: o defensor por natureza da literatura escolhia ao seu bel prazer o que lhe viesse na telha para ler e depois registrava suas impressões, pra lá de bem humoradas, num jornal. E isto tudo se transformou no livro que tive às mãos por uma semana e que me influenciou a ler também ao deus dará, sem regras alguma para tal.
Desta forma, o meu itinerário de leitura começou a se desenrolar e é partindo deste fato que transcrevo aqui as ligações literárias imaginárias que foram se costurando na minha cabeça. Depois do Nick – que tanto demonstrava sua predileção por romances – me peguei em mãos com o Travessuras da Menina Má, um romance belíssimo do Mario Vargas Llosa. Neste ponto, por falta de tempo e espaço, vou apenas me restringir a dois fatos: o primeiro é que Llosa lhe mostra neste romance que a verdadeira face do amor pode, muitas vezes, ser demonstrada através de máscaras; já o segundo fato se relaciona com as ligações imaginárias das minhas leituras de final de dezembro e começo de janeiro: é que a personagem a que o título do livro se refere, em determinada parte da história, sofre um grande trauma e necessita da interferência psicológica. Há até mesmo uma piada com a questão dos terapeutas lacanianos que costumam ser extremamente complicados. E é exatamente este ponto, acredito eu, que me levou a pegar da prateleira meu próximo livro. E nada seria mais óbvio do que o Psicologia e Doença Mental, do Michel Foucault.
Devo finalmente assumir a minha prévia aversão a livros teóricos, aversão essa que tem paroxismo nas férias. Entretanto, algo ali me surpreendeu e a leveza – exatamente isto: leveza - da leitura foi-me completamente salutar. Neste ensaio, Foucault defende a impossibilidade de ignorarmos a diferenciação radical entre o que é da ordem da causalidade psíquica e o que é da ordem da causalidade física. Foi, portanto, completamente previsível as grandes menções ao pai da Psicanálise, Sigmund Freud. E devo dizer que não haveria qualquer outro fator tão determinante quanto este para que eu escolhesse na minha prateleira o Caso Dora, um relato clínico de Freud sobre uma mulher histérica que reprimiu suas pulsões homossexuais.
Alguém pode replicar o fato de eu usar um espaço de literatura para vir falar de psicanálise e psicologia. Mas me sinto inclinado a dizer que esta mesma pessoa nunca ousou a ler Freud. Isso mesmo. Pois, para mim, Freud, antes de mais nada, foi um grande romancista. A boa escrita e a forma poética em que ele encaixa os fatos me deixam bastante propenso a assumir sem medo que Freud é, sim, literatura e vale a pena dar uma vasculhada – mesmo para aqueles cujo interesse nem de longe é psicanálise.
Com referência a isso, após Freud eu já deveria prever o que me esperava. Claro, eu tive que escolher Palavras para Dizer, um romance autobiográfico de Marie Cardinal. Nesta obra, a autora relata de forma bastante bem escrita a sua saga para se curar de uma doença de ordem psíquica. E, acreditem se quiser, com a análise de Jacques Lacan – que já mencionei logo acima. Calma, não me julguem antes de eu dizer que não se trata de mais um livro de psicologia. É, antes de tudo, um relato intenso e bastante conciso de uma mulher que moveu céus e terras para se curar de sua neurose. Marie Cardinal tem o típico jeito doce de escrever; as palavras são em suas mãos pedras de diamante que ela esculpe com muito êxito. Um outro fator importante desta obra – para mim - é a menção da autora à sua infância completamente marcada pela religião o que, de certa forma, me inclinou a optar por começar a ler Psicologia e Religião, do Carl Gustav Jung.
Não pense que vou me abranger sobre este fato. Mas também não ache que é por que me rendi a não falar mais de psicologia. Não falo mais, pois é um livro ainda a terminar e só o citei porque ele adentrou nesta ligação mística dos livros que andei lendo desses tempos para cá.
Achei surpreendente como houve um perfeito encaixe das palavras. Mesmo quando eu lutava contra a minha vontade preguiçosa de me estirar no sofá e me esbaldar de carboidratos e programações televisa pra lá de sórdidas. Como disse Nick Hornby em seu livro, na batalha da literatura com outras formas de lazer, há sempre grandes possibilidades dos livros perderem, momentaneamente, para o programa da Oprah. Entretanto – e isto sou eu quem diz -, jamais será a Oprah quem me dirá o que ler e quando ler. Isto já são coisas cá comigo. E se agora a Oprah me chama é porque minha vista já está cansada e o meu coração por demais maravilhado de tantas surpresas que a leitura proporciona.

Espero que tenham gostado das indicações e que deixem a Oprah de lado. Afinal, ela fala demais.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

No teu deserto - Miguel Sousa Tavares

"(...) Talvez tivesse medo de estragar a lembrança desses longínquos dias, medo de mover, para melhor expor as coisas, essa fina camada de pó onde repousa, apenas adormecida, a memória dos dias felizes.
A verdade é que, agora que me sento para te escrever, reparo – mas sem nenhum espanto nem estranheza – que não preciso de inventar nada: lembro-me de tudo, exactamente tudo, hora por hora, quase cada olhar nosso, cada gesto, cada sorriso, cada amuo. Sim, às vezes me acontece esta coisa curiosa, quando olho para trás através dos anos: lembrar-me de todos os detalhes – até daqueles que na altura achei que não teriam nenhuma importância nem significado – e todavia ser incapaz de situar o tempo exacto em que vivi as coisas. Como se as continuasse para sempre a viver, ou como se nunca as tivesse vivido." (p. 9, No teu deserto)

No teu deserto é um livro que chama atenção em primeiro olhar. Talvez pelo título, que faz meu coração que adora um romance saltar de vontade de ler. Talvez pelo início do capítulo I, que começa com uma faceta estilística que eu adoro, a quebra da expectativa: "(No fim, tu morres. No fim do livro, tu morres. Assim mesmo, como se morre nos romances: sem aviso, sem razão, a benefícios apenas da história que se quis contar. Assim, tu morrer e eu conto. E ficamos de contas saldadas.)"´

Eu não havia lido isso antes de comprar o livro, mas logo que o abri e li essas primeiras linhas, tive uma espécie de suspiro que significa exatamente: ainda bem que ainda existem livros assim. Digo "ainda existem" porque No teu deserto foi lançado em 2009. E eu andava meio com sede de ler uma literatura de agora, e algumas experiências não foram tão boas quanto eu imaginava. No teu deserto foi escrito por Miguel Sousa Tavares, um jornalista português. O livro é uma espécie de narração autobiográfica e visceral. Narra a viagem que um jornalista fez com Cláudia, uma mulher 15 anos mais nova, ao Saara. Os dois ainda não se conheciam antes da viagem, porém, durante ela vai-se criando uma cumplicidade muda, uma relação baseada em silêncios e proximidades. Fazendo das palavras da contra-capa as minhas: "Ao final da travessia, a ligação entre eles é maior do que ambos poderiam imaginar. E o relato dessa aventura se impõe então como uma necessidade profunda: dar sentido não apenas à viagem, mas também ao encontro amoroso, ao regresso à casa e a uma nova vida, feita de tempo, memória e transformação." Eu consigo resumi-lo como um livro exato, mas não se enganem achando que é uma exatidão daquelas que cumprem o seu papel de arrepiar uma ou duas vezes e pronto, fecha-se o livro e coloca-se na estante. É uma exatidão de palavras encaixadas, de carga semântica perfeita, de polifonia - o livro tem duas vozes - de carga sentimental e de sentimento nostálgico e saudosista, bem português, como não podia deixar de ser.

Ao final da última página, suspiro novamente, com a pele já arrepiada de tanto sentimento-palavra, literatura-vida, e afirmo novamente: ainda bem que ainda existem livros assim.


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

E que amores não são risíveis?


Após ler o mais famoso romance de Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser, teve início a minha insaciável gana por leituras do autor tcheco. Embora eu me encontre aqui para fazer uma breve descrição e opinar a respeito de sua última obra que li, Risíveis Amores, é irresistível não fazer (novamente) uma pequena digressão e não citar também O Livro do Riso e do Esquecimento. Não, não quero me gabar e tampouco levar Kundera para o TCC e as especializações eternas. Quero, apenas, que os apreciadores de tão fascinante autor mergulhem nos intertextos e complementações que se refletem nas três obras. O dualismo peso-leveza, as excentricidades individuais e o retrato de curiosas relações humanas se fazem presente sempre de maneira a causar calafrios – de tão real sensação, de tão perfeita descrição de sentimentos.

Risíveis Amores, escrito entre 1960 e 1968, é dividido em sete partes. Em todas as narrativas, o amor aparece como protagonista, cedendo lugar, ao desenrolar da narrativa, à excentricidade humana e ao cômico – são personagens que entram em jogos hipócritas do tipo ‘vou fazer de conta que não sinto e que não vejo’ e acabam se expondo ao absurdo, ao ridículo, ou, então, deparando-se com a própria imagem diante do espelho, agora sem máscaras e vestes que possam descaracterizá-los. Mas, afinal, quantas são as relações que fogem a esse ciclo, que insiste em nos trazer de volta à nossa solidão? Talvez seja, principalmente, por essas aproximações sensoriais e pela maneira de encaixar perfeitamente as palavras que Kundera surpreende mais uma vez e nos deixa em estado reflexivo.

Obra absolutamente recomendada e capaz de tornar-se ainda mais rica com as leituras (complementares) de A Insustentável Leveza do Ser e o O Livro do Riso e do Esquecimento – a ordem de manuseio torna-se irrelevante nesse caso.

Uma boa leitura a quem for se aventurar nas indecifráveis entranhas do amor!


domingo, 13 de setembro de 2009

Crônica - Para sempre tua


Nunca cruzei com você ao entrar no elevador, nunca fumei dezenas de cigarros na sua companhia, nunca dividi um copo de conhaque com você e nem nunca conversei horas contigo na casa de algum amigo em comum, poeta, quem sabe.

No entanto, consigo sentir sua presença bruta em cada lugar que eu nunca cheguei a ir. Em cada fragmento de sentimento meu, em cada vontade de subverter essa bagunça toda que a gente chama carinhosamente de “vida”.
Te sinto com uma intensa mobilidade por de baixo da minha carne, que me deixa tonta de tanta dor, tanto amor e tanta dor de novo. Uma dor doce de me saber em você e de te saber em mim de um jeito tão certo e tão bonito e tão só.
Será possível, Caio? Que estamos aqui pra procurarprocurareprocurar, como cachorros loucos querendo pegar o próprio rabo? Labirinto que somos. Enquanto leio a tua vida, pautada em pausas, silêncios e amores (como tinha que ser), narrada pela Paula Dip no livro “Para sempre teu, Caio F”, sinto uma aperto no peito tremendo. De não ter te conhecido. De não ter provado do seu humor ácido e da sua poesia marginal que extrapolava as palavras escritas entre dragões e pequenas epifanias e que, com certeza, devia invadir o seu corpo e os seus olhos grandes.
Da minha proximidade muda e atemporal contigo, tenho ainda em mãos alguns livros, uma cumplicidade silenciosa e sete desejos que guardo escondido em algum canto de mim que ainda não sei qual. Mas há ser doce.
O de viver a vida num mergulho, quem sabe. Colocar uma mochila nas costas e sair por aí, como você fez... Paris, Londres, talvez. Qualquer coisa que o valha, qualquer coisa que me faça sentir o coração bater no peito e pulsar esse sangue vermelho de uma sede que não cessa nunca.
Te sinto e te guardo aqui dentro de um jeito que nem cabe mais de tão grande.
Você não queria fãs, queria amantes. Pois cá estou depois de 13 anos da sua morte.
Durmo e acordo na sua presença todos os dias.
Não tira os olhos de mim nunca.
Axé pra mim daí de cima, por favor.

Para sempre tua,

Layse

(Para sempre teu, Caio F. - Paula Dip. Editora record.)