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domingo, 13 de setembro de 2009

Crônica - Para sempre tua


Nunca cruzei com você ao entrar no elevador, nunca fumei dezenas de cigarros na sua companhia, nunca dividi um copo de conhaque com você e nem nunca conversei horas contigo na casa de algum amigo em comum, poeta, quem sabe.

No entanto, consigo sentir sua presença bruta em cada lugar que eu nunca cheguei a ir. Em cada fragmento de sentimento meu, em cada vontade de subverter essa bagunça toda que a gente chama carinhosamente de “vida”.
Te sinto com uma intensa mobilidade por de baixo da minha carne, que me deixa tonta de tanta dor, tanto amor e tanta dor de novo. Uma dor doce de me saber em você e de te saber em mim de um jeito tão certo e tão bonito e tão só.
Será possível, Caio? Que estamos aqui pra procurarprocurareprocurar, como cachorros loucos querendo pegar o próprio rabo? Labirinto que somos. Enquanto leio a tua vida, pautada em pausas, silêncios e amores (como tinha que ser), narrada pela Paula Dip no livro “Para sempre teu, Caio F”, sinto uma aperto no peito tremendo. De não ter te conhecido. De não ter provado do seu humor ácido e da sua poesia marginal que extrapolava as palavras escritas entre dragões e pequenas epifanias e que, com certeza, devia invadir o seu corpo e os seus olhos grandes.
Da minha proximidade muda e atemporal contigo, tenho ainda em mãos alguns livros, uma cumplicidade silenciosa e sete desejos que guardo escondido em algum canto de mim que ainda não sei qual. Mas há ser doce.
O de viver a vida num mergulho, quem sabe. Colocar uma mochila nas costas e sair por aí, como você fez... Paris, Londres, talvez. Qualquer coisa que o valha, qualquer coisa que me faça sentir o coração bater no peito e pulsar esse sangue vermelho de uma sede que não cessa nunca.
Te sinto e te guardo aqui dentro de um jeito que nem cabe mais de tão grande.
Você não queria fãs, queria amantes. Pois cá estou depois de 13 anos da sua morte.
Durmo e acordo na sua presença todos os dias.
Não tira os olhos de mim nunca.
Axé pra mim daí de cima, por favor.

Para sempre tua,

Layse

(Para sempre teu, Caio F. - Paula Dip. Editora record.)

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